Abri bem os vossos olhos, aí chegam os vossos tutelados. Nem todos, entretanto, possuem o mesmo
espírito. Suas almas carregam a intemperança de seus lares, a dureza das ruas.
O excesso de informação ou a falta de zelo fizeram com que naqueles corpos
infantis nascessem jovens despreparados. A turba se agita, como se fossem
iniciar uma grande festa. Os bancos da escola vão sendo ocupados um a um.
Guardai fortemente a vossa esperança no futuro, visto que para muitos é
a única que existe. Mesmo sem saber, alguma coisa os move para a escola, como
alguém que procura um rumo para si.
Eles, porém, têm que lutar contra os seus corações rebeldes e ainda
cheios de sonhos, que insistem em viver na irresponsabilidade. Eles precisam de
alguém que os acolha.
Tende coragem! É preciso coragem para arar o solo da ignorância transformando-o em algo bom. Como já ouvistes desta história, nem todas as sementes cairão sobre solo fértil. Algumas mesmo cairão sobre corações de pedra, incapazes de fazer florescer em si qualquer coisa. No entanto, mesmo as sementes ressecadas e o vosso esforço em cultivá-las deixarão marcas indeléveis naqueles corações. Outros tantos, com seus corações arenosos, dos tipos que não conseguem fincar raízes, se perderão no meio do caminho. Um grande impulso será visto no começo, o desabrochar da semente que insiste em eclodir, mas despois virá o desânimo, a tristeza, o abandono de si mesmos. Outros, talvez porque ainda despreparados para a luz do conhecimento, preferirão jactar-se do que aprenderam, esquecendo-se de outra máxima que preconiza que o mínimo conhecimento abre espaço para dimensionar o verdadeiro tamanho de nossa ignorância. Estes se esquecem que à sombra de si mesmos, assim como as plantas, nada se desenvolve. Não saberão olhar para fora de si, buscando o bem comum e, pelo mecanismo essencial da vida, por si mesmos serão condenados.
Todas as sementes e todos os solos são importantes. Entretanto, será através dos corações generosos e humildes daqueles pequenos que miram no horizonte os seus objetivos, que vereis florescerem campos e flores de todos os matizes.
Não desistais! Lembrai que depois da mãe e do pai que nos facilitaram os meios essenciais da vida, foram os mestres que nos guiaram para fazer-nos ser o que somos. Olhai ao vosso redor. Tudo o que o homem construiu tem um pouco de vós: da linha que escreve, ao traçado dos edifícios. Do tecido que protege, ao remédio que cura. Da enxada que cultiva, ao prato que alimenta.
Sois cultivadores da alma e do conhecimento. Sois os pais do futuro. Dai
de si e olhai mais além. Deixai cair indistinta e fartamente sobre todos as vossas
sementes.
Frederico Ferreira