terça-feira, 31 de outubro de 2017

Pedras

Ao longo do caminho, o objeto imóvel.
Dir-se-ia uma pedra,
Mas não um obstáculo.
Minha vontade de ir adiante é mais forte do que ela.
Ao alcançá-la, transcendo ao outro lado e continuo.
Minha vontade de seguir, é a própria força em movê-la.

A pedra em si não tem culpa de nada.
Culpa teria eu em não seguir adiante,
Em fitar o imóvel como um ser absoluto,
Pensando ele cheio de si e vontade.

Eu não tenho medo de pedras.
Elas fazem mais vivo e intenso o meu caminho.
Longe de mim, elas parecem obstáculos.
Depois de mim, elas são passagem. 

Frederico Ferreira

sábado, 28 de outubro de 2017

O futuro

Eu não posso deixar de crer no futuro. 
Não é a desfaçatez dos políticos, 
A personificação da arrogância e do egoísmo 
Ou mesmo aqueles 
Que se julgam acima dos outros 
Que importa. 
Estes passarão, talvez humilhados pela história, 
Pelo apagar dos séculos passados. 
Poeira no chão de estrelas! 

Não é o homem animalizado pelo imediatismo, 
Enlouquecido pelo fanatismo à sua felicidade, 
Que decide com base no instante 
Que importa. 
Como em toda colheita, 
Este será preso no futuro pelo cárcere de sua consciência 
- Ou de sua loucura. 

Não são discussões de gênero ou de raça, 
Partidos políticos, 
Dissensões com base em políticas econômicas, 
Liberdade de expressão, igualdade de direitos, 
Muletas de propaganda e ascensão social, 
Sem qualquer contrapartida de dever 
Ou responsabilidade 
Que importam... 
Erramos na transitoriedade, em busca do que nos falta 
Levados pela maioria ou por nossa invigilância. 

No entanto, o futuro está aí! 
Bate à nossa porta como uma visita importante 
E nos convida a mudar. 
Não posso deixar de crer nele. 
Ele vive no coração daqueles que já fazem a sua parte. 

Ele mora nos braços do trabalhador 
Que confia na capacidade de seu sustento; 
No coração amável dos enfermeiros 
Que envolvem com seus cuidados desconhecidos; 
Ele brilha na mente do professor 
Que ilumina com seu pensamento 
O caminho de seus tutelados; 
Ele mora no sorriso simples de uma criança 
Que não consegue entender a fome, 
A miséria 
E a guerra. 

O futuro bate à nossa porta. 
Demos mais de nós para transformar o amanhã. 
Sejamos o melhor que pudermos.
Gravemos nos livros de história a nossa paixão 
Com no nosso suor e nossas lágrimas. 

Frederico Ferreira

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Gratidão

O que teria sido de mim sem ti? 
Eu não precisei tatear a distância para encontrar-te. 
Tu estavas sempre próximo de mim. 
Mais que um pai, um guia; 
Mais que uma luz, um farol. 
Um amigo. Laço indelével na eternidade! 

O amor que zela não é fortuito. 
É construção interminável no tempo. 
Sempre forte, positivo, 
Acalentador de esperanças e de sonhos. 
Braço forte na dificuldade. 

Tua presença já não faz sombra ao meu lado. 
Embora longe, guardo tua lembrança dentro de mim. 
Tudo é tão etéreo, mas ao mesmo tempo intenso. 
Harmonia e leveza do voo das gaivotas, 
Que têm sempre o azul imenso à sua volta. 

O mar é a melhor lembrança que tenho de ti. 
Companheiro de mergulhos e de ondas, 
Cuja alegria era a de simplesmente lá estar. 
Quanto ensinamento neste amar sem pretensões, 
Em usar o tempo para a doação pura aos netos. 
Quanto aprofundamento de sentimentos naqueles verões intermináveis! 
Preciso pisar na areia da praia para reviver tudo isso 
Com sua verdadeira intensidade. 

Mas mão importa onde eu esteja,
Carrego comigo teu sangue e tua história. 
Fazes-te presente em muito do que sou. 
Luz da minha vida 
A guiar-me em minha trajetória. 

Frederico Ferreira

terça-feira, 10 de outubro de 2017

O Redentor

Cumpriste tua promessa:
Foste adorar o Cristo Redentor
No altar de Botafogo.
Perguntas no teu íntimo
Como pode ser uma baía dessas,
Linda, abençoada em sua essência,
Como que recortada por mãos carinhosas,
Quase uma reverência ao Criador?

Na areia da praia sentes a força de tudo isto.
Toda a história se desenrola sobre os teus pés através das ondas.
Fechas teus olhos e vês as caravelas chegando,
Vês as batalhas de reconquista
Vês navios de sofrimento, cheios de escravos.
Vês navios de esperança também, navios de acolhimento.

Percebes que a destinação do Rio é o esplendor e a alegria.
Não há como legar tanta beleza para a dor.
Que esta prece alcance os pés do Redentor,
E faça brilhar no coração do carioca
A esperança de um novo dia.

Frederico Ferreira

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Nuvens

Minha mente está tranquila, 
Meu coração está tranquilo. 
Tudo o que sinto são como nuvens pintadas 
Em um quadro de Monet. 
Embora diáfanas, as nuvens repercutem dentro de mim. 
Elas dão profundidade, a dimensão do infinito 
Na imagem que repousa sobre o horizonte. 
Nela, tudo parece correr em outro ritmo, 
Longe do fumo das industrias ou 
Das luzes dos veículos. 
Coisas que não estão na minha pintura. 

Quem sabe até o vento sopre. 
Mas estas nuvens, 
As nuvens tranquilas que se projetam no meu lago, 
Estas ficarão 
Imóveis, indeléveis, 
Eternas. 

Frederico Ferreira