sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Olhar de longe

O quanto as pequenas coisas perdem importância
Quando nosso olhar é distante!
No quadro da vida, ao olharmos de perto,
As pinceladas, como atos humanos, refulgem
Na textura das cores,
Na grossura da tinta.
Não há sobra ou luz.
Tons de uma mesma paleta
Desaparecem.
No entanto, a figura está lá,
Inteira.
Uma vida inteira.

De longe, perdem a importância
Os pequenos erros,
Pinceladas em transe na execução de uma obra – Viver!
O fundo dos olhos confunde-se com a pupila brilhante,
Numa mesma janela de luz.
Nota-se o balançar dos ramos no
Murmúrio dos ventos que sopram, indeléveis,
Transformando a paisagem.
Já o brilho dos sorrisos ou
A tristeza do olhar
Desvanecem-se,
Longínquos,
No ponto de fuga que aponta
O infinito.
O tempo infinito.

Frederico Ferreira

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Otimismo

De agora em diante, apenas flores.
Rosas brancas!
Nada que lembre o vermelho-sangue de minhas
Veias,
Ou o azul-nebuloso das tardes sem fim.
No meu canteiro, que a grama cubra
Toda a lama e
Que floresçam flores.
Porque enquanto tarda o amanhã,
Quero sentir as gotas finas do orvalho
Matando minha sede
De vida,
E o frescor daquilo que é branco
E puro e livre,
Como o hálito que exala da flor.

Frederico Ferreira

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Questionamentos

Entender é a palavra.
Entender!
Entender qual a força que nos une
Ainda que guardemos, dentro de nós, tamanha intemperança.
Os opostos se manifestam no mundo,
Como metáforas aterradoras!

São vales que desafiam montanhas
Águas que da pedra brotam
É a terra que, de suas entranhas,
Através dos vulcões lavas soltam.

São rios que, em suas torrentes,
A desafiar a seca que se inicia,
Vertem a água que propicia
O verdejar do solo, em beleza envolvente.

Florestas exuberantes, de infinita beleza
Que, a despeito da serra que a fere,
Há uma força intrínseca da vida que tudo gere
E que sempre faz recuperar sua grandeza

Entender, volto a palavra
E não sei onde vou chegar
Neste Brasil de miseráveis, de pessoas
Esperançosas
Há tantos vultos, gente mal-intencionada, viciosas que
Para defender a igualdade, criam
Divisão.
Antes, éramos uma única nação.
Agora, somos dezenas de grupamentos!
Cada qual com sua espada, em regimentos
A lutar na arena dos ideais, em revolução.

O que fazer, entretanto?
Oh Cabral! Enxuga-me o pranto se
Ao longe, das caravelas,
Não vislumbraste um povo bom e sonhador
E árvores que, como capelas,
Já guiavam olhares para o Alto,
Ao Criador!

O que fazer, ante o irremediável porvir?
Digladiarmo-nos, talvez! Mas, ao refletir,
Não perder de nós o que há de bom:
A vontade de crescer, mas de conseguir unir, das
Diferenças, a construção.

Sejamos, pois, simplesmente brasileiros!
Amemos a Pátria do Cruzeiro.
Empunhemos a bandeira verde-louro
E conservemos, para o futuro, nosso tesouro:
— A força da nossa união.

Frederico Ferreira

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Vontade

Se tudo o que bastasse fosse simplesmente
vontade!
Ao longe observo, na imensidade dos campos incultos,
Vendavais que movimentam a superfície
Tentando atacar o que no fundo 
É nobre – Aquilo que lá plantei.

Levanto os olhos para os céus,
O coração aflito.
Aguardo com esperança a chuva da temperança,
Chuva tranquila
Que favorece o brotar das sementes,
Com sólidas raízes.
Também aguardo o florescer e o frutificar do que semeei
Na vastidão daquele coração.

Como dói! Como dói simplesmente imaginar
que pouco se salve.
Na vida do homem, como na semeadura da terra,
Pouco vale para o florescer a vontade daquele
que da senda cuida.
Tudo será conforme a terra, ou o coração
que a semente acolhe.

Frederico Ferreira

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Palácio Imperial

De que lado começo meu poema?
De que lado se, ao contemplar-te, não vejo senão escombros?
— História viva transfigurada em cinzas.
Não restou nada — nem mesmo para nossa nostalgia —
Senão as tardes de domingo ensolaradas
E a cor de sonho amarelo ocre de tua fachada!

Foram-se os Príncipes, os Imperadores. Foi-se a Princesa!
Já não mais saberemos como viveram os ícones de nossa história.
Oh, que passado de glórias!
Oh! Que presente de ruinas!
Em tua fuligem um pouco de todos nós subiu aos céus,
Na vertigem de destruição que nós próprios engendramos.
Irresponsáveis que somos com o passado,
Imperdoáveis que seremos para o futuro!

Oxalá que tudo em ti fossem as sarças que,
Ao fogo, não se consumiram!
— Sagrado para o Brasil que eras e que sempre serás.
Assim como o Cristo,
Projeta tua sombra sobre nós, Palácio Imperial!
Apazigua nossa alma jovial e irresponsável,
E continua a sustentar os alicerces de nossa Pátria
Com as tuas paredes. 

Frederico Ferreira