segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Renascimento


Não é a montanha que mata.
Montanha verde. Agora de lama e pedra
E de sangue ferroso que,
De coração parado, embora consciente, porém
Quase sem vida, estagnado
No seu sulco,
Apenas sangra.
E foi nessa hemorragia que
Se viu ruir
A pedra,
E lavar como a glória de quem se liberta
Da morte,
O renascer na vida dos outros. 

Não sobrou muita coisa!
Neste espetáculo hediondo de tentar
Reviver matando, e de
Fazer sofrer sofrendo,
Porque a vida é benção que se preserva e se
Mantém,
Quis a Natureza deixar a sua marca:
Onde havia ainda beleza para olhar,
Não sobrou nada mais que ganga
E nostalgia, e
Dor e reflexão,
E lágrimas para se poder chorar.

Frederico Ferreira

Em homenagem às vítimas de Brumadinho.



terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Sobre flores e pássaros

Às vezes na vida, temos que deixar que as flores,
Elas mesmas, cuidem de si.
Embora estejam em nossos canteiros,
Elas não nos pertencem.
São sementes de esperança, beleza e
Perfume,
Que vencem sozinhas a rudeza do solo,
A violência das pragas,
O desgaste das intempéries.

Assim também é com os pássaros,
Flores libertas
Que, no lugar de perfume,
Entoam cantos, celebrando a liberdade.

Na vida, tudo tem a sua força,
Tudo tem a sua hora.
Nada de querer antecipar o desabrochar de botões;
Nada de querer ensaiar o abandono prematuro dos ninhos.
Porque assim como o perfume dorme na semente que eclode,
A liberdade ganha espaço nas asas que se abrem, cuidadosas,
Para o amanhã.

Frederico Ferreira