quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Passadas

Diante de mim, a estrada imensa, 
O tempo infinito.
Eu, corredor nas transmigrações, de alma imortal.
Sou eu quem escolhe os caminhos. 

Regulo minhas passadas para chegar ao objetivo. 
É o ritmo dos sentimentos que imprime a força 
— Da vontade e do corpo — 
Para traspor os obstáculos. 
Não adianta fixar-me na dor, 
No arfar de cansaço ou no 
Silêncio, neste abandono 
De quem se distancia de tudo, 
Imerso em pensamentos 
A escutar apenas as próprias passadas 
E pouco observando ao redor, 
Mas com muita atenção em mim mesmo. 

Às vezes preciso de música 
Para impulsionar-me neste imenso deserto; 
Às vezes, simplesmente, a vontade de vencer. 
Vencer o corpo e a alma, 
Disciplinando-me. 
E convertendo vontade em distância, 
E superando em mim os obstáculos, 
Para cruzar, com êxito, 
A linha de chegada. 

Frederico Ferreira

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Limite

Fecho meus olhos. 
Quero estar longe destas paredes, 
E desta janela medíocre para o mundo: 
Da tela plana silenciosa, 
Inodora e insensível do computador. 

Meus olhos desejam ver Imensidão. 
Quero de novo sentir a maresia 
Invadindo meu peito. 
A areia, na sua rudeza doce, 
A envolver os meus pés. 
Atrás de mim quero ter a Serra do Mar. 
Parede enorme, no entanto, transponível. 
Com cores, densidades e bichos e 
Cachoeiras de água fria e 
Pedras, muitas pedras. 

Nada disso, porém, parece tão imenso, 
Tão intransponível quanto estas paredes brancas 
E esta outra janela do escritório que, todas as manhãs, 
Inunda meus olhos com a luz do Sol. 
Nesga de luz e pouco de mata de jardim 
Como um quadro vivo ao lado. 

Frederico Ferreira