domingo, 28 de maio de 2017

Separação

Caminhos distintos separam agora aquelas três almas.
Ao largo da Avenida de dois sentidos,
Em cada um dos lados um carro parado
Preparando-se para o reencontro.  


Não era o canteiro ao centro que os separava,
Nem a entrada para o retorno que os unia.
Tudo ali era separação.
A distância, incalculável.
Um misto de desolação e amargura.


Não era possível sequer o contato visual entre eles,
Aqueles do tipo olho no olho.
Os sonhos de outrora transformaram-se em pesadelos.
Não se imaginaria ali um casal que amou, dormiu e acordou junto.

A criança no banco do passageiro era a única coisa que passaram a ter em comum.


Caminhos opostos e um canteiro nu, frio, de pedra e ferro.
Não há flores nos canteiros da solidão.


Frederico Ferreira


sábado, 20 de maio de 2017

Mantiqueira, musa do Vale

Os galhos das Araucárias
São o berço de minha alma apaixonada. 
Elas são a imponência viva
Da Serra interminável da Mantiqueira.

Eu, da Vila indômita do Piquete,
Paulista, porém "mineiro cansado" de nascença,
- O que me confere dupla cidadania – 
Observo de longe a Grande Muralha
De onde meu coração suspira lembranças da mocidade!

Oh! Quantas tardes a viajar olhando tudo aquilo.
A imaginar, de longe, o pranto
Que conduz suas frias lágrimas
No doce correr das cachoeiras!

E eu, que já pensei que essa contemplação seria para sempre!
Para quase sempre, sem dúvida, 
Porque a vida dos mortais muda, 
Enquanto a Terra conta Eternidades.

Contigo ao largo, 
Nem precisaríamos elevar o pensamento ao Alto 
Para perceber o quanto tudo é grandioso:
Desde sua sombra que se projeta por todo o Vale
Até a noite muda que desvela galáxias infinitas!

Enquanto tiver voz, cantarei a ti, Serra amiga.
E lembrarei sempre do entardecer dourado, 
Da riqueza emoldurada em formas, 
Maravilhosa Musa do Vale!
Beleza inefável de cores e de Vida. 

Gonçalves, MG

Frederico Ferreira

sexta-feira, 5 de maio de 2017

A Guerra

Escutai-me antes que seja demasiado tarde.
A vossa memória medíocre vos impede de recordar o passado:
Eu sou a besta imunda que habita o coração humano,
A hiena faminta que bebe o vosso sangue e come a vossa carne.
Vós pensais que me conheceis, mas não!
Eu me escondo nas trevas
E prefiro fazer aparecer o vosso orgulho,
Este sentimento que vos faz pequenos enquanto tentam ser grandes.
Eu inflamo a vossa coragem e jogo provocações no ar.
Atormento o vosso pensamento e enveneno o vosso coração.

Ah! Como os vossos Chefes de Estado são fáceis de irritar!
Como os países – estes pequenos pedaços de terra que, vistos à distância, não possuem nenhuma fronteira –
E este sentimento de patriotismo louco
Não são outra coisa senão a manifestação da vossa fraqueza!
Para mim, não importa a cor da vossa pele,
Eu amo o sangue, sempre vermelho.
Eu ignoro a língua que falais.
Compreendo apenas o último suspiro dos vossos heróis.
Eu falo apenas a língua da morte,
E sempre venço.

Tenho desejo de ver os vossos olhos tristes aspirando a paz que não chegará jamais.
Eu recolherei as vossas lágrimas para regar o meu jardim de cadáveres
Enquanto escuto a sinfonia melancólica das mães que choram os seus filhos.
Tudo isto vos parece triste, eu sei.
Entretanto, eu estarei ao lado dos algozes da humanidade
E gozarei com eles a sua riqueza maldita
E estremecerei a cada bala atirada, a cada bomba jogada,
Mas principalmente a cada corpo que cai!

Oh! Como eu sou má!
Apartai-vos de mim, portanto.

Eu vos espero um dia,
Enquanto sonho com a dor
E as paisagens insólitas de destruição e de morte
Por causa de vós mesmos.

Frederico Ferreira

Texto originalmente escrito em francês e traduzido pelo autor.
https://lerevelarealite.blogspot.com.br/2017/05/la-guerre.html