sexta-feira, 5 de maio de 2017

A Guerra

Escutai-me antes que seja demasiado tarde.
A vossa memória medíocre vos impede de recordar o passado:
Eu sou a besta imunda que habita o coração humano,
A hiena faminta que bebe o vosso sangue e come a vossa carne.
Vós pensais que me conheceis, mas não!
Eu me escondo nas trevas
E prefiro fazer aparecer o vosso orgulho,
Este sentimento que vos faz pequenos enquanto tentam ser grandes.
Eu inflamo a vossa coragem e jogo provocações no ar.
Atormento o vosso pensamento e enveneno o vosso coração.

Ah! Como os vossos Chefes de Estado são fáceis de irritar!
Como os países – estes pequenos pedaços de terra que, vistos à distância, não possuem nenhuma fronteira –
E este sentimento de patriotismo louco
Não são outra coisa senão a manifestação da vossa fraqueza!
Para mim, não importa a cor da vossa pele,
Eu amo o sangue, sempre vermelho.
Eu ignoro a língua que falais.
Compreendo apenas o último suspiro dos vossos heróis.
Eu falo apenas a língua da morte,
E sempre venço.

Tenho desejo de ver os vossos olhos tristes aspirando a paz que não chegará jamais.
Eu recolherei as vossas lágrimas para regar o meu jardim de cadáveres
Enquanto escuto a sinfonia melancólica das mães que choram os seus filhos.
Tudo isto vos parece triste, eu sei.
Entretanto, eu estarei ao lado dos algozes da humanidade
E gozarei com eles a sua riqueza maldita
E estremecerei a cada bala atirada, a cada bomba jogada,
Mas principalmente a cada corpo que cai!

Oh! Como eu sou má!
Apartai-vos de mim, portanto.

Eu vos espero um dia,
Enquanto sonho com a dor
E as paisagens insólitas de destruição e de morte
Por causa de vós mesmos.

Frederico Ferreira

Texto originalmente escrito em francês e traduzido pelo autor.
https://lerevelarealite.blogspot.com.br/2017/05/la-guerre.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário