terça-feira, 26 de setembro de 2017

Jardim

É hora de varrer as folhas secas,
De limpar o terreno da Alma,
Fazer a terra do coração respirar. 
É hora de podar os arbustos da consciência,
De fazer aparecer as flores miúdas e perfumadas
- que brotaram a duras penas -
Que resistiram fortemente 
À aridez do solo inculto.

É hora de regar as plantas como quem 
Aguarda o frescor da brisa da primavera.
De deixar cair as gotas da esperança
A umedecer o solo com temperança,
E fazer as cores prevalecerem. 

Nada de folhas secas neste jardim! 
Nada de monturos do passado, 
Folhas perdidas pelos ventos dos acontecimentos,
De bancos sujos que impedem o repouso da alma. 

É preciso fazer a terra respirar,
Fazer a luz alcançar a imensidão deste canteiro.
É preciso não ter medo de deitar sobre a relva verde,
E contemplar todos os avanços que já se fez.
De sentir o perfume em si,
Como quem cultiva uma virtude 
E faz brotar de si a essência da alma.

Frederico Ferreira

sábado, 23 de setembro de 2017

Vive plenamente

Não te deixes abater pelas nuvens negras no horizonte, 
Dentro de ti dorme a luz da conquista. 
É dela que nasce a tua esperança. 
Faz com que esta luz brilhe. 
Projete-a diante de ti no teu caminho. 
Abre as janelas da tua alma para o amanhã; 
O amanhã de novas possibilidades. 
Rega com teu esforço o teu progresso. 
Alimenta-te do fruto destas pequenas sementes 
Que eclodem a cada dia. 
Recolhe a água pura que brota do teu ser. 
Bebe desta água reconfortante. 
E vive plenamente. 

Frederico Ferreira

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Tantos Versos

São tantos versos! 
Tantos! 
Tantos versos que muitos se perdem a cada instante. 
São como sorrisos lançados ao vento, 
Pétalas que nascem e que secam em silêncio. 
Lágrimas ocultas que brotam no coração emotivo. 
Afagos apressados, 
Pensamentos esparsos e logo esquecidos. 

Palavras e canções mudas, porém 
Livres, intensas em sua paixão. 
Versos que se escrevem 
Na imaterialidade do tempo, 
Na fugacidade de olhares furtivos, 
Em sintonia com o instante.

Frederico Ferreira

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Mar profundo

Da respiração triste, surgem janelas embaçadas. 
O reflexo mostra olhares perdidos, 
Preocupados. 
Crianças brincam desprevenidas, 
Desavisadas da tempestade que se aproxima. 
O barco adentra o mar profundo 
Como o sonho extasiante da adolescência. 

Infinita é a vida que se abre no horizonte azul das ondas, 
Enquanto o céu tudo cobre com seu manto sagrado de estrelas. 
Correntes descendentes, 
Arrecifes de ilusão, 
Ventos incertos atrapalham sua rota. 
Das incertezas do caminho, 
O único acalento da alma é que um dia aportará. 

Impotente se vê o nauta que procura desesperadamente 
O céu azul e o mar tranquilo
Ao longe nas vigias. No horizonte,
O mar encapelado, barco encoberto de espuma 
Que tenta seguir seu rumo, 
Em direção ao seu porto seguro. 

Os olhos são as vigias da Alma 
Onde pais, marinheiros castigados pelo tempo, 
Pelo rude açoite das ondas, 
Procuram conduzir seus filhos 
Nas catadupas das paixões bravias. 

Não há bussolas possíveis, 
Astrolábios a buscar rotas demarcadas pelo êxito. 
Tudo se perde no mar profundo do infinito de possibilidades, 
Onde a alma, que busca incessantemente seu caminho, 
Como ventos libertadores de correntes fugidias, 
Traça sua rota. 

Sua liberdade é a própria descoberta de ser livre. 
Sua rota é o próprio caminho que se descortina diante de si, 
No mar infinito. Nesta descoberta, 
Tudo é ímpeto, paixão e aprendizado. 

O nauta quer salvar sua embarcação. 
A única forma possível é o Amor. 

Frederico Ferreira

Chuva

São infinitas as folhas que balançam ao vento. 
Infinitas as gotas de chuva que se perdem no solo seco e triste. 
Tudo é ciclo, balanço e movimento – transformação. 
Sinfonia da Natureza a impressionar o ouvido humano, 
O coração humano. 

Que sopre em nós a mudança que não tarda: renovação. 
Que chova sobre nós e nos umedeça 
O coração trincado. 
E lá, nova planta, um dia, floresça. 

Frederico Ferreira

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Pedido

Das mãos grossas de sujeira, nasceu um pedido.
Mãos postas a suplicar,
A aguardar a virtude que viria da alma.

Dos olhos fundos da fome,
Dos andrajos tristes da miséria,
Da boca vazia de dentes
Brotou um sorriso,
Nasceu o abraço.
Encheu-se de recompensa o coração.

De tudo o que ali faltava, ainda encontrei o homem.

Frederico Ferreira