quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Ode ao Mar

Que altares divinos a Natureza nos revela?

São matas exuberantes,
Copas altas no céu entrecortadas,
Cadeias de montanhas amontoadas
A desafiar olhares extasiantes.

Vejo as estrelas ao olhar para o céu.
Planetas variados,
Miríades de mundos espalhados
No Universo infinito em seu escuro véu.

Mais perto de mim, outro universo.
Desta vez, finito no acabamento,
Porém cheio de beleza, que o faz diverso.
Me marejam os olhos ao observá-lo por um momento.

Quanta alegria ao ver o mar sinto comigo!
Histórias de família, férias intermináveis.
São facetas da vida, lembranças memoráveis,
Que amá-lo toda a vida parece ser um tempo exíguo.

Tento o Sol como astro matutino,
Irradiando luz, para a vida renovar,
O mar é o grande espetáculo Divino,
Tendo a areia da praia como altar.

Minha vida não poderia ter outra destinação.
É algo que vem de dentro, é inexplicável.
Enche-me de alegria, amor e emoção,
E faz reverberar na alma este amor inesgotável.

Frederico Ferreira

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A granja

Num imenso balcão,
Embora ventilado e cheio de verde à sua volta,
Galinhas disputam.
Este é um ambiente diverso do que se vê normalmente.
Não são todas iguais, brancas.
Há galinhas de todos os matizes:
vermelhas,
pretas,        
marrons,
brancas.

No seu linguajar monossilábico,
Parecem discutir.
Uma tenta cacarejar mais alto do que a outra.
Estufam o peito.
Batem asas.
Brigam entre si,
querendo dar razões às suas ideias,
Quando não percebem que são todas elas,
          simplesmente, galinhas.
          todas, condenadas, à princípio.

Um homem de botas as visita.
Veem nele um tipo estranho:
          O homem que traz a comida
          e a água — o que o transformou em seu líder.
Ele também anota números em uma placa,
Como que em uma contagem regressiva para o abate.
Elas, porém, não desconfiam de nada,
Porque veem as palavras, mas não as entendem.
Elas veem os números, mas não sabem contar.
Ninguém ensina galinhas a ler.

Por esta falta em sua instrução,
Não imaginam elas que as cercas são arames frágeis,
fáceis de se romper.
Ou ainda que,
a placa que diz:
          SAÍDA,
          Pode lhes valer a vida.

Mais ao fundo, algumas doentes,
Aleijadas pelo rompante de suas ideias,
Porém ignoradas pela massa,
Morrem solitárias.
Dir-se-ia serem talvez as poetas naquela língua,
ou ainda, pensadoras daquele lugar
Que, do empirismo do seu pensamento,
Almejaram mudar seu destino.

Mas tudo continua monossilábico.
Pensamentos e palavras rasas,
Superficiais,
Que selam fatalidades;
Ou ainda que as mantém confinadas.

O tempo passa e não conseguem perceber que a morte se aproxima.

Mas porque minha preocupação com tudo isso?
Galinhas não votam.

Frederico Ferreira

sábado, 13 de janeiro de 2018

Nas ruas desertas do meu sonho

Nas ruas desertas do meu sonho, o gigante dorme.
Ninguém lá está, senão os mendigos.
Miséria carregada de tristeza e abandono,
Como fantasmas vivos
De mãos sujas e alma turva.
A rua é sua penúltima morada
Antes da morte definitiva.
— Se é que podemos afirmar que estão vivos.
A bebida os consome por dentro,
Mas é a droga que os enlouquece,
          que os cerra na sua loucura,
Onde não há fome ou frio.
Aceitam, assim, a viagem sem volta.

Nas ruas desertas do meu sonho, o gigante dorme.
Dorme porque sua alma está entorpecida.
As contas para pagar,
          os impostos — muitos impostos,
O medo do desemprego,
          a violência,
Entorpecem a alma do meu país.
Ninguém olha para a janela ao lado.
Sequer abrem a janela do carro
Para ver o que se passa
          com os mendigos
          — Que ninguém quer ver.

Nas ruas desertas do meu sonho, o gigante dorme.
E, enquanto dorme,
O dinheiro some — ou dizem que some.
Os risos daqueles que roubam
dos que aceitam
tudo
em silêncio,
Invade a noite.
Invade o dia.
Entra pelas estações e os anos.
Mas os jasmins continuam a florir.
E as damas-da-noite continuam a cheirar
Para adocicar o sono dos que
          dormem.

Meu sonho é às vezes interrompido por gargalhadas.
Vejo na penumbra que os colarinhos
          estão entreabertos.
As gravatas maldispostas — relaxadas.
Bocas que ruminam como porcos os seus fartos jantares
E exibem suas panças gordas
— como gordos cachaços —
os reis da pocilga!
Como são insaciáveis!
Como o dinheiro que lhes é entornado como lavagem
          para consumirem e
                    deitarem e se
                              locupletarem,
          jamais é suficiente!
E depois desta orgia,
Colocam suas cabeças em seus travesseiros de pluma
macios,
altos,
como sua arrogância  
Para compensar o peso de suas consciências.

Nas ruas desertas do meu sonho,
São seus próprios demônios que os perseguem,
e nenhum outro.
Não dormem sem sentir o medo que apavora
o da sombra das grades,
da pobreza que abominam ou ainda,
o do frio punhal da traição.
Contam maços de dinheiro à noite.
Pacotes e pacotes de baiacus e de
onças pintadas.
                    Animais em cativeiro.
Usam apelidos, falam baixo, arrumam esconderijos
Porque paredes têm ouvidos.
Seu melhor amigo é
também
seu inimigo.

Nas ruas desertas do meu sonho, o gigante dorme.
E os mendigos cantam e dançam
Enquanto toda a gente dorme e sonha
          Junto comigo
                    dias melhores.
Mas não há ação. Apenas respiramos
imóveis.
Todos dormem.
Dormem.

Frederico Ferreira

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Autoretrato

Os braços tremem. O coração treme.
Na hora da verdade, tudo é ímpeto.
Já não sou dentro de mim.
A página escrita é o reflexo do que sou.
Sou eu que estou aqui.
Sou desta tinta mesma que preenche espaços vazios.
Turbilhão de sentimentos canalizados em palavras.
É aqui que eu existo.

Frederico Ferreira