terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A granja

Num imenso balcão,
Embora ventilado e cheio de verde à sua volta,
Galinhas disputam.
Este é um ambiente diverso do que se vê normalmente.
Não são todas iguais, brancas.
Há galinhas de todos os matizes:
vermelhas,
pretas,        
marrons,
brancas.

No seu linguajar monossilábico,
Parecem discutir.
Uma tenta cacarejar mais alto do que a outra.
Estufam o peito.
Batem asas.
Brigam entre si,
querendo dar razões às suas ideias,
Quando não percebem que são todas elas,
          simplesmente, galinhas.
          todas, condenadas, à princípio.

Um homem de botas as visita.
Veem nele um tipo estranho:
          O homem que traz a comida
          e a água — o que o transformou em seu líder.
Ele também anota números em uma placa,
Como que em uma contagem regressiva para o abate.
Elas, porém, não desconfiam de nada,
Porque veem as palavras, mas não as entendem.
Elas veem os números, mas não sabem contar.
Ninguém ensina galinhas a ler.

Por esta falta em sua instrução,
Não imaginam elas que as cercas são arames frágeis,
fáceis de se romper.
Ou ainda que,
a placa que diz:
          SAÍDA,
          Pode lhes valer a vida.

Mais ao fundo, algumas doentes,
Aleijadas pelo rompante de suas ideias,
Porém ignoradas pela massa,
Morrem solitárias.
Dir-se-ia serem talvez as poetas naquela língua,
ou ainda, pensadoras daquele lugar
Que, do empirismo do seu pensamento,
Almejaram mudar seu destino.

Mas tudo continua monossilábico.
Pensamentos e palavras rasas,
Superficiais,
Que selam fatalidades;
Ou ainda que as mantém confinadas.

O tempo passa e não conseguem perceber que a morte se aproxima.

Mas porque minha preocupação com tudo isso?
Galinhas não votam.

Frederico Ferreira

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