quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Joana D'Arc

Das vozes que dos ventos sopram,
Das forças que da Terra brotam,
Campos de flores e perfumes,
Da treva que valoriza o lume,
Surge missão divina, de liberdade
A provar da Santa a lealdade.

Armadura de fé
Espada de confiança
Pôs-se logo de pé
Exercendo liderança.

Sem intenção de poder ou fama,
Fez da luta sua dedicação.
Fez-se mártir, Santa Joana
Iluminada por divina inspiração.

Sem temer o futuro ou destino,
Na fogueira foi queimada.
Com o fumo, sua Alma foi subindo,
Mas deixou sua semente plantada.

Qualquer bom propósito na vida é importante.
Pega tuas armas. Sê relevante,
Independentemente do que se tem de resultado,
As forças do bem estarão ao teu lado.
Eleva, portanto, o coração e o pensamento.
Faz de ti, da vida, um instrumento.

Frederico Ferreira.


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Notre-Dame de Paris

Dos símbolos milenares, das formas seculares,
De sinos e criptas e torres e altares
És esplendor vivo. — Criação exuberante!
A apontar para o céu de estrelas cintilante.

És muro de pedra entalhada,
— Trabalho, paixão e dor —
Que do cinzel se fez arte revelada.
Minúcias e complexidades da Alma
A reverenciar o Criador e a Mãe do Salvador.

Vitrais que difundem Luz
Como espectros que nos acompanham.
Que fazem cultivar a Fé
Que brota nos pés da Cruz.

Joelhos que se curvam,
Corações que transbordam
Preces que alcançam as alturas
Como suspiros que sobem ao céu.

São olhares esperançosos
Que refletem a luz das velas.
São corações miúdos, como pequenas capelas
A entoar cânticos ao Senhor.

És a semente da Cidade Luz,
Marco zero da Luminosidade.
Fanal de almas que buscam a Verdade
A tatear, na treva da matéria,
Os passos abençoados de Jesus.


Frederico Ferreira
 

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Montanhas

Porque este fascínio incontrolável por estas montanhas?
O que teriam elas a dizer-me?
Que mensagem, lembrança secular
Me prende à estas paredes de pedra?
Será a beleza que a Natureza encerra em si,
Formas suntuosas cobertas de exuberância?
Ou será mesmo o próprio mistério da Vida
Com seus picos e vales,
Sombras e luzes que se revelam aos meus olhos?

Guardo dentro de mim as minhas Serras.
Montanhas crivadas de esperança
A refletir luz
Nas sombras de meus pecados.
E fios d’água e cachoeiras
Que se dissolvem em orvalho
E fazem germinar flores de boas ações.
Dentro de mim há dias chuvosos e tristes
E que guardam em si a certeza de que tudo se transforma.
Há noite, há lua e há beleza.

Pássaros cantam ofertando-me versos bucólicos
E fins de tarde de luz tênue
Que me deixam melancólico.
Oh Montanhas intermináveis!
Oh vastidão coberta de cores, vida e sonho!
O meu ver-te é tudo o que carrego já comigo.
És a força da Terra a apontar para o Infinito.

Frederico Ferreira
Poços de Caldas - 04.11.2017

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Pedras

Ao longo do caminho, o objeto imóvel.
Dir-se-ia uma pedra,
Mas não um obstáculo.
Minha vontade de ir adiante é mais forte do que ela.
Ao alcançá-la, transcendo ao outro lado e continuo.
Minha vontade de seguir, é a própria força em movê-la.

A pedra em si não tem culpa de nada.
Culpa teria eu em não seguir adiante,
Em fitar o imóvel como um ser absoluto,
Pensando ele cheio de si e vontade.

Eu não tenho medo de pedras.
Elas fazem mais vivo e intenso o meu caminho.
Longe de mim, elas parecem obstáculos.
Depois de mim, elas são passagem. 

Frederico Ferreira

sábado, 28 de outubro de 2017

O futuro

Eu não posso deixar de crer no futuro. 
Não é a desfaçatez dos políticos, 
A personificação da arrogância e do egoísmo 
Ou mesmo aqueles 
Que se julgam acima dos outros 
Que importa. 
Estes passarão, talvez humilhados pela história, 
Pelo apagar dos séculos passados. 
Poeira no chão de estrelas! 

Não é o homem animalizado pelo imediatismo, 
Enlouquecido pelo fanatismo à sua felicidade, 
Que decide com base no instante 
Que importa. 
Como em toda colheita, 
Este será preso no futuro pelo cárcere de sua consciência 
- Ou de sua loucura. 

Não são discussões de gênero ou de raça, 
Partidos políticos, 
Dissensões com base em políticas econômicas, 
Liberdade de expressão, igualdade de direitos, 
Muletas de propaganda e ascensão social, 
Sem qualquer contrapartida de dever 
Ou responsabilidade 
Que importam... 
Erramos na transitoriedade, em busca do que nos falta 
Levados pela maioria ou por nossa invigilância. 

No entanto, o futuro está aí! 
Bate à nossa porta como uma visita importante 
E nos convida a mudar. 
Não posso deixar de crer nele. 
Ele vive no coração daqueles que já fazem a sua parte. 

Ele mora nos braços do trabalhador 
Que confia na capacidade de seu sustento; 
No coração amável dos enfermeiros 
Que envolvem com seus cuidados desconhecidos; 
Ele brilha na mente do professor 
Que ilumina com seu pensamento 
O caminho de seus tutelados; 
Ele mora no sorriso simples de uma criança 
Que não consegue entender a fome, 
A miséria 
E a guerra. 

O futuro bate à nossa porta. 
Demos mais de nós para transformar o amanhã. 
Sejamos o melhor que pudermos.
Gravemos nos livros de história a nossa paixão 
Com no nosso suor e nossas lágrimas. 

Frederico Ferreira

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Gratidão

O que teria sido de mim sem ti? 
Eu não precisei tatear a distância para encontrar-te. 
Tu estavas sempre próximo de mim. 
Mais que um pai, um guia; 
Mais que uma luz, um farol. 
Um amigo. Laço indelével na eternidade! 

O amor que zela não é fortuito. 
É construção interminável no tempo. 
Sempre forte, positivo, 
Acalentador de esperanças e de sonhos. 
Braço forte na dificuldade. 

Tua presença já não faz sombra ao meu lado. 
Embora longe, guardo tua lembrança dentro de mim. 
Tudo é tão etéreo, mas ao mesmo tempo intenso. 
Harmonia e leveza do voo das gaivotas, 
Que têm sempre o azul imenso à sua volta. 

O mar é a melhor lembrança que tenho de ti. 
Companheiro de mergulhos e de ondas, 
Cuja alegria era a de simplesmente lá estar. 
Quanto ensinamento neste amar sem pretensões, 
Em usar o tempo para a doação pura aos netos. 
Quanto aprofundamento de sentimentos naqueles verões intermináveis! 
Preciso pisar na areia da praia para reviver tudo isso 
Com sua verdadeira intensidade. 

Mas mão importa onde eu esteja,
Carrego comigo teu sangue e tua história. 
Fazes-te presente em muito do que sou. 
Luz da minha vida 
A guiar-me em minha trajetória. 

Frederico Ferreira

terça-feira, 10 de outubro de 2017

O Redentor

Cumpriste tua promessa:
Foste adorar o Cristo Redentor
No altar de Botafogo.
Perguntas no teu íntimo
Como pode ser uma baía dessas,
Linda, abençoada em sua essência,
Como que recortada por mãos carinhosas,
Quase uma reverência ao Criador?

Na areia da praia sentes a força de tudo isto.
Toda a história se desenrola sobre os teus pés através das ondas.
Fechas teus olhos e vês as caravelas chegando,
Vês as batalhas de reconquista
Vês navios de sofrimento, cheios de escravos.
Vês navios de esperança também, navios de acolhimento.

Percebes que a destinação do Rio é o esplendor e a alegria.
Não há como legar tanta beleza para a dor.
Que esta prece alcance os pés do Redentor,
E faça brilhar no coração do carioca
A esperança de um novo dia.

Frederico Ferreira

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Nuvens

Minha mente está tranquila, 
Meu coração está tranquilo. 
Tudo o que sinto são como nuvens pintadas 
Em um quadro de Monet. 
Embora diáfanas, as nuvens repercutem dentro de mim. 
Elas dão profundidade, a dimensão do infinito 
Na imagem que repousa sobre o horizonte. 
Nela, tudo parece correr em outro ritmo, 
Longe do fumo das industrias ou 
Das luzes dos veículos. 
Coisas que não estão na minha pintura. 

Quem sabe até o vento sopre. 
Mas estas nuvens, 
As nuvens tranquilas que se projetam no meu lago, 
Estas ficarão 
Imóveis, indeléveis, 
Eternas. 

Frederico Ferreira

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Jardim

É hora de varrer as folhas secas,
De limpar o terreno da Alma,
Fazer a terra do coração respirar. 
É hora de podar os arbustos da consciência,
De fazer aparecer as flores miúdas e perfumadas
- que brotaram a duras penas -
Que resistiram fortemente 
À aridez do solo inculto.

É hora de regar as plantas como quem 
Aguarda o frescor da brisa da primavera.
De deixar cair as gotas da esperança
A umedecer o solo com temperança,
E fazer as cores prevalecerem. 

Nada de folhas secas neste jardim! 
Nada de monturos do passado, 
Folhas perdidas pelos ventos dos acontecimentos,
De bancos sujos que impedem o repouso da alma. 

É preciso fazer a terra respirar,
Fazer a luz alcançar a imensidão deste canteiro.
É preciso não ter medo de deitar sobre a relva verde,
E contemplar todos os avanços que já se fez.
De sentir o perfume em si,
Como quem cultiva uma virtude 
E faz brotar de si a essência da alma.

Frederico Ferreira

sábado, 23 de setembro de 2017

Vive plenamente

Não te deixes abater pelas nuvens negras no horizonte, 
Dentro de ti dorme a luz da conquista. 
É dela que nasce a tua esperança. 
Faz com que esta luz brilhe. 
Projete-a diante de ti no teu caminho. 
Abre as janelas da tua alma para o amanhã; 
O amanhã de novas possibilidades. 
Rega com teu esforço o teu progresso. 
Alimenta-te do fruto destas pequenas sementes 
Que eclodem a cada dia. 
Recolhe a água pura que brota do teu ser. 
Bebe desta água reconfortante. 
E vive plenamente. 

Frederico Ferreira

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Tantos Versos

São tantos versos! 
Tantos! 
Tantos versos que muitos se perdem a cada instante. 
São como sorrisos lançados ao vento, 
Pétalas que nascem e que secam em silêncio. 
Lágrimas ocultas que brotam no coração emotivo. 
Afagos apressados, 
Pensamentos esparsos e logo esquecidos. 

Palavras e canções mudas, porém 
Livres, intensas em sua paixão. 
Versos que se escrevem 
Na imaterialidade do tempo, 
Na fugacidade de olhares furtivos, 
Em sintonia com o instante.

Frederico Ferreira

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Mar profundo

Da respiração triste, surgem janelas embaçadas. 
O reflexo mostra olhares perdidos, 
Preocupados. 
Crianças brincam desprevenidas, 
Desavisadas da tempestade que se aproxima. 
O barco adentra o mar profundo 
Como o sonho extasiante da adolescência. 

Infinita é a vida que se abre no horizonte azul das ondas, 
Enquanto o céu tudo cobre com seu manto sagrado de estrelas. 
Correntes descendentes, 
Arrecifes de ilusão, 
Ventos incertos atrapalham sua rota. 
Das incertezas do caminho, 
O único acalento da alma é que um dia aportará. 

Impotente se vê o nauta que procura desesperadamente 
O céu azul e o mar tranquilo
Ao longe nas vigias. No horizonte,
O mar encapelado, barco encoberto de espuma 
Que tenta seguir seu rumo, 
Em direção ao seu porto seguro. 

Os olhos são as vigias da Alma 
Onde pais, marinheiros castigados pelo tempo, 
Pelo rude açoite das ondas, 
Procuram conduzir seus filhos 
Nas catadupas das paixões bravias. 

Não há bussolas possíveis, 
Astrolábios a buscar rotas demarcadas pelo êxito. 
Tudo se perde no mar profundo do infinito de possibilidades, 
Onde a alma, que busca incessantemente seu caminho, 
Como ventos libertadores de correntes fugidias, 
Traça sua rota. 

Sua liberdade é a própria descoberta de ser livre. 
Sua rota é o próprio caminho que se descortina diante de si, 
No mar infinito. Nesta descoberta, 
Tudo é ímpeto, paixão e aprendizado. 

O nauta quer salvar sua embarcação. 
A única forma possível é o Amor. 

Frederico Ferreira

Chuva

São infinitas as folhas que balançam ao vento. 
Infinitas as gotas de chuva que se perdem no solo seco e triste. 
Tudo é ciclo, balanço e movimento – transformação. 
Sinfonia da Natureza a impressionar o ouvido humano, 
O coração humano. 

Que sopre em nós a mudança que não tarda: renovação. 
Que chova sobre nós e nos umedeça 
O coração trincado. 
E lá, nova planta, um dia, floresça. 

Frederico Ferreira

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Pedido

Das mãos grossas de sujeira, nasceu um pedido.
Mãos postas a suplicar,
A aguardar a virtude que viria da alma.

Dos olhos fundos da fome,
Dos andrajos tristes da miséria,
Da boca vazia de dentes
Brotou um sorriso,
Nasceu o abraço.
Encheu-se de recompensa o coração.

De tudo o que ali faltava, ainda encontrei o homem.

Frederico Ferreira

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Silêncio

Eu consigo entender o silêncio dos poetas.
Neste momento, é este silêncio que me fala mais alto.
É fácil perceber a mudez sentida,
A mudez de quem não é compreendido.

Não bastam anseios
Não basta os olhos encherem-se de lágrimas,
A emoção que brota do verso
Que vem destilado do sentimento puro,
Traduzido e minimizado pela palavra.
Os poemas são flores que nascem no deserto.
E que às vezes são notados.

O mundo tem pressa de fazer.
De preencher o tempo fazendo.
Nesta alucinação louca,
Na locomotiva desvairada do progresso,
As flores no deserto passam despercebidas:
Uma mancha vermelha no horizonte.

A flor tem pressa de sentir
Ela é intensa enquanto vive.
Ao seu redor
Tudo é luz, beleza e perfume.

Frederico Ferreira

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Vagas tristes

Prestai atenção! Não escutais ainda ao longe o rumor das vagas a bater nos cascos dos negreiros?
Suas espumas rebatem sobre nós como lágrimas tristes.
Os grilhões não existem mais, mas ainda pesam sobre a nossa história.
Os açoites já não ferem a carne, mas estalam como palavras que doem na alma.
Coragem irmãos, coragem!
Lembrai-vos dos vossos antepassados que lutaram pela liberdade a qualquer custo.
E agradecei à ciência que, a despeito de nossa soberba e arrogância,
Nos colocou todos em pé de igualdade.

Não vos enganeis. Não estais sozinhos.
Junto de vós há outros irmãos em humanidade
Que lamentam profundamente o vosso passado de dor e miséria;
Que se envergonham deste vexame histórico,
- A subjugação de um povo por outro -
Da mentira secular da superioridade calcada na visão de superfície,
Quando na essência, somos todos apenas humanos.

O vosso trabalho agora é para o futuro.
Plantai as sementes hoje que florescerão amanhã.
Sede honestos convosco mesmos,
Não vos deixeis iludir pelas quimeras do mundo.
Não será a revolta que vos tirará da marginalidade,
Mas sim o roteiro incólume que,
A despeito de todas as degenerações ao vosso redor,
Provará ser firme o vosso propósito.
Notai: Todas as facilidades, todos os desvios do caminho são armadilhas para fustigar a vossa queda.
Guiai-vos!
Elevai-vos pelos bons exemplos da humanidade.
E que cada um de vós sirva de apoio um para o outro.

Estudai! Mirai mais além.
Deitai as vossas cabeças sobre os livros,
Engrandecei a vossa alma com a luz e o conhecimento.
Sede os melhores que podeis.
Atingi pelo vosso engrandecimento o ápice da montanha,
E guardai o vosso grito jubiloso para o final: Eu venci!

E não pareis mais!... Engajai-vos neste esforço contínuo,
Fazei valer as vossas conquistas como o élan para os mais pusilânimes.
Abraçai-os, apaziguai-os em seus soluços de revolta e tristeza,
E não deixeis que ninguém mais se perca.
E não duvideis: Outros tantos estarão nas coxias acompanhando e ajudando este grande espetáculo social.

Que sejamos, um dia, ditosos!
E possamos todos celebrar a união do povo brasileiro.
Engajemo-nos todos num movimento único de fraternidade,
E que possamos viver em paz na Terra do Cruzeiro.
Seja ela o nosso ideal de vida, igualdade e liberdade.

Frederico Ferreira

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Cores

Nossa cor denuncia o que somos? 
É nosso corpo ou nossas ações que nos definem? 
A destinação de todos os cabelos é o branco. 
A pele crestada ao Sol confirma imediatamente a nossa fragilidade,
Enquanto a cova fria reclama igualdade. 

Por qual direito ou ideal estamos lutando? 
Se todos somos iguais diante da morte, 
Porque então não sê-lo em vida? 
Para o Mundo, temos todos o mesmo valor. 
A única supremacia inquestionável é a paz. 

Frederico Ferreira

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Trajetória II

I

Eu caminho sozinho pelos desertos de minhalma.
No meio dele, dunas imensas,
Paixões imensuráveis,
Que se movimentam à força dos acontecimentos.

Meu deserto sou eu.

Um livro marca o roteiro que conduz ao objetivo.
As dunas se movimentam.
Não obstante, quando olho para trás,
Vejo todos os meus passos meu passado!

É ele que me afasta de meu destino.

II

Eu não posso temer cruzar as minhas vastidões.
Não me pode vencer o cansaço de descortinar-me.
Guardo comigo histórias dos que já estão adiante na descoberta de si.
Eles me inspiram e dão-me confiança à cada passo.

III

Oásis, oásis múltiplos!
Ilhas de esperança e refazimento desde os confins de minha história.
Deixa-me refrescar as feridas dalma em tuas águas claras
Enquanto o vento brando
Recupera reminiscências e a confiança.

Já ouço a voz consoladora do Rabi,
Contemplo a beleza dourada dos lírios;
Assombra-me a fé miúda e forte,
Sinto a amizade e o amor puros.

Ao pé de Ti Mestre,
Tudo é recomeço, esperança
E continuidade. 

Frederico Ferreira

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Flor

Não te deixes abater pelas sombras tristes em teu canteiro;
Renova tuas forças e tuas esperanças.
Guarda em ti a tua vida e a tua seiva. 
Veste-te delicadamente de tuas pétalas brancas 
E aguarda o Sol desabrochar num novo dia. 

Oh rosa linda e delicada! 
Alimenta-te do orvalho da madrugada 
E faz resplandecer, 
No núcleo dourado da tua alma, 
O teu esplendor. 

Frederico Ferreira 

Para J.Miranda (prima querida)

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Tudo passa

Porque certas horas sinto esta dor no peito,
O coração opresso como num abandono?
Eu vejo as paragens do mundo; tudo me extasia.
Não há porque duvidar do amanhã.

Sim. Tudo na vida passa como um capítulo curto,
Uma melodia que acaba.
A impressão fica.
Eu remoo estas impressões, que viram versos.
Tudo é tão sutil e breve que sequer devo ocupar-me de entender.

Estas linhas dão cor à minha vida.
Nelas que meu sonho repousa.
É nos meus versos que eu sou.

A noite passa insone e triste.
Abre-se diante de mim o silêncio e o infinito:
Lápis e papel em branco.
Aqui encontro a minha cura.


Frederico Ferreira

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Pequeno coração ferido

Meu corpo, teu corpo.
Quão estreito é o limite entre nós.
Vivo no teu universo.
Respiro e me alimento do que é teu
E gravito, dentro de ti,
Como um astronauta.

Eu sonho com a vida lá fora.
Me atento aos ruídos externos.
Tudo é vida dentro e fora de mim.

Não me culpes. Quero viver!
Deixa-me, portanto, sonhar com o amanhã.
Não te deixes levar pelas ideias tortas de liberdade.
Não tenho como contrapô-las.

Lei dos homens. Lei da Natureza.
Uma mutável. A outra, não.
Lembra-te: somos homens, biológicos,
Sentimos dor, temos sentimentos.
Quer-me bem por um momento!

Mãe, não quero nascer antes do tempo
Até porque não sei se consigo viver.
Deixa-me aqui, no seu quentinho.
Dá-me mais tempo para crescer.

Lei dos homens, penso uma vez mais.
Mas eu sigo a lei da Natureza: Nascer.
Se minha vida terminar naturalmente,
É porque eu não tinha que ser.
No mais, quero viver!

Antes pensa em como será amanhã,
Sem teu amigo que se foi, que não é mais. 
Não há vazio mais triste nesta vida.
É triste e dói,
Mesmo sendo permitido,
Não há lei que apazigue a dor de um pequeno 
coração ferido. 

Frederico Ferreira

segunda-feira, 19 de junho de 2017

O arado

O arado sempre me faz refletir.
Ele me faz lembrar que, a despeito de todo o avanço tecnológico,
É ele que alimenta o homem.
Aparentemente ultrapassado – simples disco sulcado de ferro –
Ele silenciosamente trabalha para preparar a terra,
Para trazer à mesa o alimento.
Ele traz consigo a nossa essência e a nossa destinação humana,
Calorosa, quente.
Como o calor que sobe dos nossos poros,
Igualmente sobe o calor dos fogões,
Dos pratos fumegantes à mesa,
Da família reunida no seu ato social e amoroso,
De nutrição indispensável para a alma e o corpo
Com olhos nos olhos.

Ao nosso lado o invisível trabalha: É a inteligência da máquina
Que nos fascina e inquieta,
A inteligência que se alimenta da nossa vida e entusiasmo
Mas que é essencialmente estéril.
Elas roubam o nosso olhar em direção ao mundo.
Nos fazem ver apenas por esta janela estreita,
Inumana,
Determinística,
Fria, 
Controlada e artificial.
O inanimado que sugere o que somos para o outro,
Na singularidade das formas e dos eventos,
Na efemeridade do excesso,
Na superficialidade do contato.


Tudo é um sonho magnífico que termina quando o corpo precisa comer.
E concluímos que as amizades e relações verdadeiras
São feitas sempre em volta de uma mesa,
No calor das nossas emoções,
Com olhos nos olhos.

Frederico Ferreira


quarta-feira, 14 de junho de 2017

Ao Brasil, perdão!

Oh Pátria minha!
Uma vez mais peço-te perdão.
Já se passam séculos e continuamos a fazer o de sempre: roubar-te!
Sim, porque ao absolver ladrões implicados
Mostramos que estamos todos do mesmo lado.
Todos sonhamos acordados com o futuro que não chega jamais!
Nossa inércia é monstruosa.
Nada mais nos indigna.
Nem mesmo nossa justiça, que parece mais afeita a ladrões de galinhas.
Estamos anestesiados pelos odores pestilentos de nossa pocilga moral,
Confundidos pelas notícias propositalmente desencontradas,
Abatidos, fatigados pelo labirinto de problemas ditos insolúveis.

Respiro fundo e sonho: Como poderia ser diferente se tudo funcionasse!
Mas as malas de dinheiro não carregam valores para matar a fome,
Não compram remédios,
Não pagam professores.
Tudo continua a repetir-se como antes,
Na hereditariedade das capitanias e nos bigodes dos coronéis.
O luxo é para poucos!
Continuamos, entretanto, anestesiados,
Assistindo a tudo como um novo capítulo de uma novela,
Como se nada disso nos pertencesse.

Oh impunidade!
Como é fácil negar! Como é fácil desmentir tudo – mesmo imagens e vozes gravadas.
Como as manobras são feitas para nos dar a impressão de que algo está acontecendo.
Não sabemos ao certo. Estamos anestesiados.
Somos torturados pelos fantasmas do passado
E temos medo do futuro.
Fomos educados para parecer medíocres.
Tudo o que fazemos parece médio, mas não!
Temos vergonha de sentir vergonha.
Só não temos vergonha de ver tudo isso e continuarmos anestesiados.

O que fazer então?
Quem sabe primeiro tentar vencer a timidez ingente
E largar o ópio da indolência, que é toda a nossa anestesia?
Indignar-se e falar!
Dar a voz ao coração e à mente que anseia.
E agir!
Pensar no bem comum, na ética a qualquer preço,
Ainda que fazendo pouco, mas sempre.
Esta terra é nossa. Cuidemos dela.

Tudo fica mais claro agora.
Parece que a sombra se dissipa
E já vejo o brilho cintilante nas estrelas da nossa bandeira.

Frederico Ferreira

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Conselhos a uma jovem poeta

Não te inquietes com o primeiro verso.
A partir da primeira sílaba, tudo flui como uma longa caminhada.
Ninguém fará juízo de ti se as frases são curtas ou longas
Como pequenas pedras ou longos caminhos sobre os quais seguimos
Através das veredas da criatividade.


Isto, aliás, é o menos importante.
Importa chegar no destino, quem sabe até um pouco mais leve,
Como alguém que tirou um peso de si porque,
Cedo ou tarde, descobrimos que escrevendo vamos também nos conhecendo.


Sim, também é imprescindível ter coragem.
Quem nos lê faz a biopsia de nossa alma,
Como quem tira dela um pedaço,
De papel e tinta, por certo,
Mas que é o nosso espelho
Ou o nosso sonho.
Eles sentem, no ritmo dos nossos versos, a nossa paz ou a nossa ira,
O sabor doce das nossas paixões ou o amargor das nossas angustias.


Deixe fluir. Deixe fluir a vontade que tem domínio de si,
Porque neste fluxo somos apenas os condutores,
Como o pensamento que se projeta à distância
E conduz o nosso corpo ao fim da jornada.


Não há padrões ou convenções a respeitar.
Não há trilhos, mas várias trilhas.
Não há obstáculos, mas limites a vencer.
O papel acolhe com humildade tudo o que escrevemos.


Liberte tua alma, portanto.
A alma liberta não tem freios.
A folha em branco a espera.


Frederico Ferreira

domingo, 28 de maio de 2017

Separação

Caminhos distintos separam agora aquelas três almas.
Ao largo da Avenida de dois sentidos,
Em cada um dos lados um carro parado
Preparando-se para o reencontro.  


Não era o canteiro ao centro que os separava,
Nem a entrada para o retorno que os unia.
Tudo ali era separação.
A distância, incalculável.
Um misto de desolação e amargura.


Não era possível sequer o contato visual entre eles,
Aqueles do tipo olho no olho.
Os sonhos de outrora transformaram-se em pesadelos.
Não se imaginaria ali um casal que amou, dormiu e acordou junto.

A criança no banco do passageiro era a única coisa que passaram a ter em comum.


Caminhos opostos e um canteiro nu, frio, de pedra e ferro.
Não há flores nos canteiros da solidão.


Frederico Ferreira


sábado, 20 de maio de 2017

Mantiqueira, musa do Vale

Os galhos das Araucárias
São o berço de minha alma apaixonada. 
Elas são a imponência viva
Da Serra interminável da Mantiqueira.

Eu, da Vila indômita do Piquete,
Paulista, porém "mineiro cansado" de nascença,
- O que me confere dupla cidadania – 
Observo de longe a Grande Muralha
De onde meu coração suspira lembranças da mocidade!

Oh! Quantas tardes a viajar olhando tudo aquilo.
A imaginar, de longe, o pranto
Que conduz suas frias lágrimas
No doce correr das cachoeiras!

E eu, que já pensei que essa contemplação seria para sempre!
Para quase sempre, sem dúvida, 
Porque a vida dos mortais muda, 
Enquanto a Terra conta Eternidades.

Contigo ao largo, 
Nem precisaríamos elevar o pensamento ao Alto 
Para perceber o quanto tudo é grandioso:
Desde sua sombra que se projeta por todo o Vale
Até a noite muda que desvela galáxias infinitas!

Enquanto tiver voz, cantarei a ti, Serra amiga.
E lembrarei sempre do entardecer dourado, 
Da riqueza emoldurada em formas, 
Maravilhosa Musa do Vale!
Beleza inefável de cores e de Vida. 

Gonçalves, MG

Frederico Ferreira

sexta-feira, 5 de maio de 2017

A Guerra

Escutai-me antes que seja demasiado tarde.
A vossa memória medíocre vos impede de recordar o passado:
Eu sou a besta imunda que habita o coração humano,
A hiena faminta que bebe o vosso sangue e come a vossa carne.
Vós pensais que me conheceis, mas não!
Eu me escondo nas trevas
E prefiro fazer aparecer o vosso orgulho,
Este sentimento que vos faz pequenos enquanto tentam ser grandes.
Eu inflamo a vossa coragem e jogo provocações no ar.
Atormento o vosso pensamento e enveneno o vosso coração.

Ah! Como os vossos Chefes de Estado são fáceis de irritar!
Como os países – estes pequenos pedaços de terra que, vistos à distância, não possuem nenhuma fronteira –
E este sentimento de patriotismo louco
Não são outra coisa senão a manifestação da vossa fraqueza!
Para mim, não importa a cor da vossa pele,
Eu amo o sangue, sempre vermelho.
Eu ignoro a língua que falais.
Compreendo apenas o último suspiro dos vossos heróis.
Eu falo apenas a língua da morte,
E sempre venço.

Tenho desejo de ver os vossos olhos tristes aspirando a paz que não chegará jamais.
Eu recolherei as vossas lágrimas para regar o meu jardim de cadáveres
Enquanto escuto a sinfonia melancólica das mães que choram os seus filhos.
Tudo isto vos parece triste, eu sei.
Entretanto, eu estarei ao lado dos algozes da humanidade
E gozarei com eles a sua riqueza maldita
E estremecerei a cada bala atirada, a cada bomba jogada,
Mas principalmente a cada corpo que cai!

Oh! Como eu sou má!
Apartai-vos de mim, portanto.

Eu vos espero um dia,
Enquanto sonho com a dor
E as paisagens insólitas de destruição e de morte
Por causa de vós mesmos.

Frederico Ferreira

Texto originalmente escrito em francês e traduzido pelo autor.
https://lerevelarealite.blogspot.com.br/2017/05/la-guerre.html

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Noite

A noite repousa sobre meu país.
As florestas dormem, mas ainda escutamos o suave rumor das cachoeiras.
Dorme também o homem que nele habita.
Tudo repousa naquela paz comum das noites frias.

É nas noites que as intermitências acontecem. Tudo para.
Elas fazem diminuir a pujança da nossa bestialidade.

Frederico Ferreira

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Trajetória

Erguei os vossos olhos para adiante, que o Sol brilha.
Brilham também estrelas e os olhos arregalados de vida maravilhados.
Maravilham as águas que caem das montanhas e as torrentes que seguem mudas,
Emudecidas pela calmaria do tempo fluido.
Flui o sangue nas veias do coração acelerado
Que acelera a mente que mente a si e nega
E sonega a verdade da vida que vê, que sente e escuta.

Continuai com a vossa alma suspirante a busca
Mesmo através do nada que não se vê quando é observado – ainda que sendo um caminho -
E observa que tudo respira na mesma ordem, uníssono, no fluxo
Que flui fluindo vida, beleza, imensidão, amor!.
Amai, portanto, indistintamente o Universo e o Criador;
O lar da vida que vive o tempo quase infinito e
Aquele que, da Vontade, cria e recria e transforma a vida.

Sim, tudo teve um começo e tem um fim.
Não o fim do começo, mas finalidade
Que nos envolve através da verdade que aos poucos se desvela.
Vida, morte - morte da matéria! - porque enquanto vida e Criação Divina,
Respira em nós a centelha que jamais se apaga
É alma, é eterna!
A mesma chama que brilha no homem civilizado e no homem da caverna.

São nas transmigrações sucessivas, de mundos e de vidas
Que vamos nos aproximando do Criador.
Veja que Luz, que sabedoria infinita
Que nos dá muitas chances de vida, para aprender e evoluir!
Não nasce do verme a borboleta?
Não se esforça a semente na cova bendita?
Guardamos em nós também a essência divina, pronta para eclodir.

Olhai para o lado, vede quão diferentes são os caracteres e as gentes
Cada um com seu valor e aptidões diferentes,
Outros tantos com virtudes e torpezas inatas.
São almas que se educaram e continuam se educando
Aos poucos, imersas na matéria bruta.
Aos poucos aprendendo que o caminho do Santo
É de dor, de renúncia, de fé, de esperança e de luta.


Frederico Ferreira

domingo, 26 de março de 2017

Aos Mestres

Abri bem os vossos olhos, aí chegam os vossos tutelados.  Nem todos, entretanto, possuem o mesmo espírito. Suas almas carregam a intemperança de seus lares, a dureza das ruas. O excesso de informação ou a falta de zelo fizeram com que naqueles corpos infantis nascessem jovens despreparados. A turba se agita, como se fossem iniciar uma grande festa. Os bancos da escola vão sendo ocupados um a um.

Guardai fortemente a vossa esperança no futuro, visto que para muitos é a única que existe. Mesmo sem saber, alguma coisa os move para a escola, como alguém que procura um rumo para si.  Eles, porém, têm que lutar contra os seus corações rebeldes e ainda cheios de sonhos, que insistem em viver na irresponsabilidade. Eles precisam de alguém que os acolha.

Tende coragem! É preciso coragem para arar o solo da ignorância transformando-o em algo bom. Como já ouvistes desta história, nem todas as sementes cairão sobre solo fértil. Algumas mesmo cairão sobre corações de pedra, incapazes de fazer florescer em si qualquer coisa.  No entanto, mesmo as sementes ressecadas e o vosso esforço em cultivá-las deixarão marcas indeléveis naqueles corações. Outros tantos, com seus corações arenosos, dos tipos que não conseguem fincar raízes, se perderão no meio do caminho.  Um grande impulso será visto no começo, o desabrochar da semente que insiste em eclodir, mas despois virá o desânimo, a tristeza, o abandono de si mesmos.  Outros, talvez porque ainda despreparados para a luz do conhecimento, preferirão jactar-se do que aprenderam, esquecendo-se de outra máxima que preconiza que o mínimo conhecimento abre espaço para dimensionar o verdadeiro tamanho de nossa ignorância. Estes se esquecem que à sombra de si mesmos, assim como as plantas, nada se desenvolve. Não saberão olhar para fora de si, buscando o bem comum e, pelo mecanismo essencial da vida, por si mesmos serão condenados.  

Todas as sementes e todos os solos são importantes. Entretanto, será através dos corações generosos e humildes daqueles pequenos que miram no horizonte os seus objetivos, que vereis florescerem campos e flores de todos os matizes.

Não desistais! Lembrai que depois da mãe e do pai que nos facilitaram os meios essenciais da vida, foram os mestres que nos guiaram para fazer-nos ser o que somos. Olhai ao vosso redor. Tudo o que o homem construiu tem um pouco de vós: da linha que escreve, ao traçado dos edifícios. Do tecido que protege, ao remédio que cura. Da enxada que cultiva, ao prato que alimenta.

Sois cultivadores da alma e do conhecimento. Sois os pais do futuro. Dai de si e olhai mais além. Deixai cair indistinta e fartamente sobre todos as vossas sementes.


Frederico Ferreira